O que são e como Trabalhar com as Competências Socioemocionais?

Escrito por 
Karina N. Tomelin
Publicado 
23/1/2023
C

ada vez mais, estudos têm evidenciado a importância das competências socioemocionais para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, tanto para o seu sucesso acadêmico quanto profissional. As competências socioemocionais tratam de um conjunto de habilidades que são fundamentais para o funcionamento social, como gerenciamento de tarefas, emoções e sentimentos que, consequentemente, garantem o sucesso de um indivíduo. 

Elas dizem respeito à forma como o indivíduo se relaciona com ele mesmo e com o mundo, as crenças que estabelece sobre si e sua forma de lidar diante de desafios e problemas. Atualmente, os desafios impostos por novos estilos de vida, pelas tecnologias digitais, têm exigido ainda mais o desenvolvimento das competências socioemocionais.  O mundo BANI (sigla para Brittleness, Anxiety, Nonlinearity e Incomprehensibility), frágil (falta de controle, pois não há garantias), ansioso (tomadas rápidas de decisões), não linear (mudança constante e planejamento a curto prazo) e incompreensível (pouca previsibilidade e variáveis incontroláveis) expõem o indivíduo a sobreviver confiando em inúmeros sistemas complexos e incompreensíveis que afetam profundamente a sua vida. 

Tudo isso impacta diretamente nos processos mentais e emocionais que, por sua vez, desencadearão, como uma avalanche, consequências no desempenho funcional, profissional e até cognitivo. A compreensão de que somos seres humanos integrados e que precisamos entender a nossa vida e experiência de forma holística se torna fundamental para refletir sobre o conceito das competências socioemocionais. 

As competências gerais da BNCC e os itinerários formativos do novo ensino médio têm olhado para vários aspectos das competências socioemocionais. Destaco, aqui, a competência 6: “Trabalho e projeto de vida”, que mobiliza o estudante a pensar e refletir sobre seu propósito e projeto futuro. Promover o autoconhecimento, favorecendo a reflexão sobre as próprias habilidades, fragilidades e potencialidades é, sem dúvida, um aprendizado que o indivíduo carregará ao longo da vida. 

Em um mundo globalizado e dinâmico, em que as mudanças acontecem de forma exponencial, precisamos preparar os jovens não para uma profissão, mas para várias. As futuras gerações experimentarão diversas carreiras ao longo da vida, diferentemente de seus pais e avós. Isso, sem dúvida, exige muito mais abertura ao novo, flexibilidade, resiliência e capacidade de percepção do ambiente e de si mesmo. 

Conectar-se com as transformações da Era digital e compreender que as oportunidades são globais mobiliza reflexões sobre viver diversas profissões e também viver múltiplas experiências, como a possibilidade de viver em outros países, experimentando novas culturas, línguas e relacionamentos. 

Reconhecer a importância das competências socioemocionais já foi um grande ganho para a educação. Olhar para o indivíduo em formação, considerando sua integralidade e seu desenvolvimento por inteiro é fundamental. A escola permite a experiência de ambientes de troca, conexão com diferentes pessoas, trabalhos em equipe, colaboração e, também, lidar com desafios das próprias emoções. Interpretar, analisar, compreender e reconhecer as situações em que mobilizamos as competências socioemocionais é um primeiro passo para desenvolvê-las. 

Professores precisam ser preparados para lidar com suas competências socioemocionais para que possam criar recursos, aprendizados e oportunidades aos estudantes de explorar a si mesmo e o mundo que o cerca de maneira segura e confiante. Mais do que implementar currículos, as competências socioemocionais precisam ser vividas e exigirão do professor flexibilidade, resiliência e uma mudança na reflexão do seu próprio papel na sala de aula, já que o foco não estará mais, exclusivamente, no conteúdo, mas nas relações e no cuidado de si e do outro. 

As competências socioemocionais são a base do bem-estar psicológico e do desempenho acadêmico dos estudantes. Portanto, cada vez mais, faz-se necessário nomeá-las, torná-las visíveis e interpretáveis, possibilitando que sejam compreendidas pelos professores e traduzidas aos estudantes. 

A pandemia trouxe impactos ainda não totalmente compreensíveis às crianças e adolescentes sobre a sua formação psicológica. Isso tem sido percebido por pais e educadores e tem gerado muitas dúvidas e preocupações. 

A saúde mental é uma delas, já que, naturalmente, algumas etapas do desenvolvimento, como a adolescência, tendem a ser bastante desafiadoras; somam-se a fatores como deixar a casa dos pais e viver em um novo ambiente, no caso de jovens universitários ou estudantes que fazem intercâmbio; dar conta das próprias expectativas e dos pais; passar por problemas financeiros; e até competição entre pares. 

Podem ocorrer, ainda, dificuldades de integração em grupos; dificuldades na gerência do tempo; sofrer preconceitos étnicos ou culturais; outro fator como a consciência sobre a própria identidade e orientação sexual; muitas vezes ser privado de sono; ter dificuldade em conciliar trabalho, estudo, atividades domésticas, lazer e relacionamentos e ser afligido por preocupações em relação ao futuro e à empregabilidade. Tudo isso são alguns dos desafios que atingem o adolescente em formação. 

A combinação de todos esses fatores tem impacto direto no processo de ensino e aprendizagem. Estudantes desatentos, ansiosos, deprimidos e, em alguns casos, agressivos e violentos estão nas salas de aulas e, muitas vezes, são negligenciados pela dificuldade de saber o que fazer. 

O primeiro passo é desenvolver a capacidade de escuta e observação para interpretar e acolher as necessidades de cada turma e estudante. Antes de propor atividades que possam desenvolver as competências socioemocionais, o professor precisa reconhecer quais são as necessidades e onde as atividades precisam ser focadas, como, por exemplo, no autoconhecimento, na colaboração, na empatia, na gestão das emoções, entre outros.

No mundo de grandes transformações e inseguranças, as futuras gerações precisam ser preparadas emocionalmente para lidar com desafios que ainda desconhecem. Saber encontrar o propósito da vida, lidar com o estresse cotidiano, buscar recursos para desenvolver o bem-estar, incluir estratégias para viver diante de conflitos, reconhecer a importância das relações, do respeito às diferenças e gerir seus sentimentos e emoções, favorecendo novos aprendizados, é fundamental. 

Olhar para dentro nem sempre é confortável. É muito mais fácil culpar situações e pessoas pelos problemas que nos afligem. As competências socioemocionais colocam os educandos como protagonistas da sua própria vida e responsáveis por sua felicidade e sucesso. Assim, a escola poderá instrumentalizar, dar recursos para que os estudantes possam gerir suas próprias vidas de maneira segura e feliz. O futuro exigirá bons profissionais, mas exigirá muito mais, boas pessoas.

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