dislexia é um transtorno de leitura e escrita que afeta o processamento fonológico, caracterizado pela incapacidade ou dificuldade em decodificação de palavras, soletração e fluência. É considerado persistente e inesperado, visto que acompanha o indivíduo ao longo de toda a vida e pode lhe causar prejuízos, mantendo-o abaixo dos níveis esperados de desenvolvimento e escolaridade. No entanto, o quadro disléxico não é justificado por qualquer déficit intelectual ou sensorial.
Diagnóstico
Uma condição de aprendizagem de base genética é a descrição para a dislexia, ou seja, sua natureza é hereditária. Normalmente, o diagnóstico é realizado no período de alfabetização da criança, quando dificuldades para aprender a ler e a escrever são observadas. Por isso, é fundamental que o professor acompanhe e monitore o processo de aprendizagem dos estudantes, informe os pais ou responsáveis e solicite a avaliação de uma equipe multidisciplinar, que poderá diagnosticar corretamente.
A criança será acolhida por uma equipe composta por neuropediatra, fonoaudiólogo, psicopedagogo e psicólogo, os quais aplicarão provas e testes com foco na avaliação do nível de leitura, do vocabulário e das habilidades específicas de processamento de informações, como memória e atenção. Antes de afirmar que uma pessoa é disléxica, é preciso descartar a ocorrência de deficiências visuais e auditivas, déficit de atenção, escolarização inadequada e problemas emocionais, psicológicos e socioeconômicos que possam interferir na aprendizagem.
Vale ressaltar que estudantes disléxicos que não recebem o diagnóstico na fase escolar são, muitas vezes, rotulados como displicentes, relaxados e até preguiçosos, o que contribui para o surgimento de outros problemas, inclusive associados à saúde mental.
“Fui totalmente desestimulado em meus dias na escola. E nada é mais desencorajador do que sermos marginalizados em sala de aula, o que nos leva a sentirmo-nos inferiores em nossa origem humana.” (Winston Churchill)
Tratamento
Muitas crianças não são diagnosticadas e podem ser mal compreendidas por pais ou responsáveis e professores, em função do baixo desempenho e da frustração com os estudos. Independentemente da idade escolar, nunca é tarde para realizar o diagnóstico, e o docente tem papel essencial, pois cabe a ele observar, indicar e apoiar o estudante.
Não há cura para a dislexia, e sim tratamento. Para que a pessoa com dislexia aprenda a conviver com o transtorno e consiga, mais rapidamente, modelar recursos e estratégias para enfrentar os desafios impostos por essa condição, o diagnóstico deve ser feito o mais cedo possível. Igualmente, o tratamento também é realizado com equipe multiprofissional que promoverá práticas de estímulo à leitura e à escrita e de suporte para lidar com as críticas e os estigmas advindos do modelo educacional tradicional. Além disso, é indispensável o envolvimento da escola, do professor e da família.
Desafios da família
Muitos pais se sentiram desafiados a apoiar seus filhos no processo de ensino-aprendizagem durante a pandemia de Covid-19. Além das atividades domésticas e do próprio trabalho, ainda precisaram organizar o dia a dia para as aulas virtuais e fornecer suporte extra aos alunos.
O oferecimento de informações e orientações para o planejamento da rotina de aprendizagem e recursos de aprendizagem, de comunicação assertiva e de desenvolvimento de competências socioemocionais é muito importante para garantir e fortalecer o vínculo entre pais e filhos.
Desafios na escola
Toda mudança exige adaptação. Da mesma forma que o ensino remoto exigiu o estabelecimento de uma rotina de estudos, o retorno ao presencial, com novas adequações, medidas de segurança e regras adicionais, exigirá das escolas amplo plano de comunicação e sensibilização, organização de novas práticas educacionais e apoio e acolhimento de estudantes com deficiência e transtornos de aprendizagem.
O ensino on-line impôs grandes desafios aos alunos com dislexia, já que manter a atenção durante horas na frente de uma tela é muito mais desafiador. Em contrapartida, escolas e docentes puderam – e ainda podem – incorporar novos e excelentes recursos digitais de aprendizagem. Audiobooks, aulas gravadas, fontes diferenciadas para disléxicos nos materiais didáticos e avaliação por meio de instrumentos gráficos e audiovisuais são alguns exemplos.
Além das adaptações já conhecidas, como comandos claros aos alunos e testes adaptados com tempo estendido, o professor poderá ampliar sua atuação a partir da demonstração do seu desejo em ajudar, do reforço do progresso e do esforço do estudante, do destaque dos pontos positivos, da valorização das pequenas conquistas, do favorecimento das oportunidades de interação social e do acolhimento das expectativas. No ensino presencial, isso se tornará muito mais fácil.
Desafios do professor
Diante do diagnóstico de um aluno com dislexia na turma, o professor precisa ser orientado para que ofereça atividades adaptadas, bem como exercícios e tarefas complementares. Ele também contribui favorecendo o relacionamento interpessoal e reconhecendo as conquistas do estudante disléxico.
É importante lembrar que, na maioria das vezes, o professor não é especialista em transtornos de aprendizagem, logo, nem sempre está capacitado para observar os sinais apresentados pelo educando. O oferecimento de formação continuada aos docentes é fundamental para que saibam identificar e lidar com deficiências e transtornos e dificuldades de aprendizagem.
Assim que o professor conseguir observar e interpretar os sintomas sem julgá-los, será capaz de perceber que o aluno precisa de ajuda. Com o ensino on-line, além da observação ser menos evidente – visto que a participação do estudante esteve restrita a poucos momentos de interação síncrona –, fatores socioambientais, como falta de adaptação ao modelo virtual, pouco acesso aos recursos digitais, falhas no acompanhamento de um adulto durante as atividades escolares e até ausência de um espaço de estudo adequado, favoreceram o desenvolvimento de diferentes dificuldades de aprendizagem que não são, necessariamente, diagnosticadas como dislexia.
Agora, com o retorno ao modelo presencial, todos os fatores mencionados deverão ser considerados para que o apoio aos estudantes ocorra da melhor forma possível.
Algumas dicas:
Dica 1: O Instituto ABCD é referência no assunto no Brasil. Em seu site, é possível encontrar materiais recomendados a educadores, além de um teste rápido para detectar possíveis sinais de dislexia em adultos. Link: https://www.institutoabcd.org.br/quem-somos/
Dica 2: O aplicativo EducaBox é um recurso gratuito de aprendizagem docente, que entrega drops diários com temas associados à inclusão, a transtornos e a dificuldades de aprendizagem, a fim de auxiliar professores na atuação prática. Link: https://educabox.app.br/
Dica 3: Um filme que deveria ser assistido por todos os professores é Como Estrelas na Terra, de 2001 (disponível na Netflix). Vale a pena se inspirar e se emocionar com essa história!